Lembram do desfecho do julgamento do atleta Paulo Roberto, de Altos, que jogou com três cartões amarelos na partida diante do River, pelo segundo turno? Absolvição por unanimidade. Não foram poucos os que duvidaram da informação divulgada pelo SITE DO BUIM. Dirigentes de Altos se revoltaram com a notícia, rotulando-a de "boato". E nós, que tínhamos plena convicção da irregularidade, nunca entendemos por qual motivo o TJD acolheu a tese do advogado do Jacaré - os cartões zeravam ao final do 1° turno, a exemplo dos pontos. O regulamento era omisso, etc. Na realidade, o que houve, naquela ocasião, foi o ponto de partida para o que hoje estamos prestes a presenciar - o Campeonato Piauiense, no ano em que ele completa 100 anos, será decidido no tapetão. Seja o título para Altos ou River. Sim, incluo a possibilidade de Altos também ganhar esta parada. Seus advogados estão aí prá isso, e o entendimento dos auditores do TJD dependerá, obviamente, da convicção de cada um. Repito, é obvio ululante. Mas vejo a necessidade de tecer alguns pontos já que, quer queiram, quer não queiram, o campeão não vai depender de bola na rede, mas de quem tiver o melhor advogado no TJD.
O CASO PAULO ROBERTO
Repito, mas agora pela última vez, que o atleta Paulo Roberto jogou irregular na partida diante do River, pela 6ª rodada do 2° turno, dia 20 de abril. No jogo anterior, contra o Piauí, Paulo Roberto completou a série de três cartões amarelos. Como já tinha dois cartões acumulados do 1° turno, completou a série de 3 e teria que cumprir suspensão diante do River. Não o fez, jogou irregular.
ONDE ALTOS ERROU
No primeiro turno, quando Paulo já tinha dois cartões amarelos, ele começou o jogo diante do Piauí - lá no 1° turno, repetimos -, pendurado com 2 cartões. Durante os 90 minutos, foi advertido com cartão amarelo, completando a série de 3. Porém, no mesmo jogo, foi advertido pela segunda vez, o que obriga o árbitro a expulsar o atleta. E foi o que ocorreu. Depois de ser advertido pela segunda vez, Paulo Roberto foi expulso. Nesses casos, os dois cartões amarelos que lhe foram apresentados, no mesmo jogo, antes da expulsão, não entram na contabilidade.
Por desconhecimento da legislação neste aspecto - errare humanum est -, o que fez a diretoria de Altos? Tirou Paulo dos dois jogos seguintes, contra Cori-Sabbá (24 de fevereiro) e River (27 de fevereiro), fazendo com que ele cumprisse a suspensão pela expulsão e outra pelo terceiro cartão amarelo. Ocorre que ele não estava com três cartões, mas apenas dois, já que, as duas advertências diante do Piauí não entraram para a contagem. Resultado: Paulo cumpriu um jogo de forma desnecessária, pois não estava com três cartões, mas apenas dois.
O TERCEIRO CARTÃO DE PAULO ROBERTGO
Com dois cartões amarelos, Paulo Roberto começou a jogar o segundo turno. Para os dirigentes do Jacaré, porém, ele estava sem cartão. Quando foi advertido no jogo diante do River, pela 6ª rodada do 2° turno, o que para Altos era o primeiro cartão da 2ª série, na realidade, era o terceiro da primeira série. Logo, Paulo deveria ficar ausente do jogo com o River. Mas ele entrou em campo e jogou irregular. River e Altos terminou com o empate por 1 a 1. No TJD, Altos deveria ser punido com a perda de 4 pontos.
O JULGAMENTO DE PAULO
Com a mesma convicção do SITE DO BUIM, a Federação de Futebol do Piauí, promotora do Campeonato Piauiense, denunciou Altos para o TJD, comunicando que seu atleta Paulo Roberto jogara irregular contra o River. O que seria muito simples, a perda de 4 pontos por parte de Altos, transformou-se no início de uma grande confusão com a absolvição do time altoense por unanimidade. O leitor haverá de perguntar: por qual motivo o TJD teria errado? Não serei eu que irei responder se houve erro ou acerto. Mas uma coisa é incontestável. Nem a diretoria do Altos adotava o critério que foi levantado pelo seu advogado, ou seja, zerar os cartões no primeiro turno. E lhes mostro seis exemplos disso:
Celso, Fred, Esquerdinha, Marcos Pimentel, Netinho e Leone, todos jogadores de Altos, cumpriram a suspensão automática com dois cartões amarelos do 1° turno e o terceiro cartão do 2° turno. Ou seja, para a diretoria do Altos, o regulamento era bem claro. Os cartões acumulavam do 1° para o 2°turno. Repito, foi assim com Celso, Fred, Esquerdinha, Marcos Pimentel, Netinho e Leone. Não poderia ser diferente com Paulo Roberto. Mas havia uma luz jurídica no fim do túnel. E foi por ela que o advogado encontrou a saída para o time ser absolvido: assim como os pontos ganhos foram zerados ao final do 1° turno, os cartões amarelos também o seriam. Os auditores da Comissão Disciplinar do TJD acolheram por unanimidade. Não sei se teriam o mesmo entendimento, se soubessem que, nos casos de Celso, Fred, Esquerdinha, netinho, Marcos Pimentel e Leone, Altos seguiu, rigorosa e pontualmente, o que determina o regulamento do Campeonato Piauiense: cumprir suspensão automática após o terceiro cartão amarelo.
O PÓS-JULGAMENTO
Com a tese de Altos acolhida pelo TJD, o Campeonato Piauiense passou a ter duas modalidades de contagem dos cartões amarelos: uma, de acordo com o regulamento do campeonato, que não fala em zeragem de cartões, e a outra, conforme levantou o advogado de Altos e o TJD decidiu, cartões zerados a partir do segundo turno. Com muita gente fechando os olhos, achando que estava tudo muito bem, a competição foi seguindo com vários times colocando atleta em campo de forma irregular: ora pelo disposto no regulamento, ora pelo entendimento do TJD. Por este último, só Flamengo e Picos não entraram em campo com atleta irregular. O restante... uma festa. Parecia mesmo que o SITE DO BUIM , na realidade, tinha dado uma tremenda mancada.
Mas com tudo isso, ainda esperávamos uma final de campeonato com o brilho que o restante da competição não teve. Quando imaginávamos que poderíamos ter 20, 30 mil pessoas no Albertão, temos que aceitar a final com, no máximo, 50, 60 pessoas, espremidas, dividindo o pequeno espaço do auditório Carlos Said, na sede da FFP, onde são realizadas as sessões do Tribunal de Justiça Desportiva. Mas, quem sabe, o TJD tem tudo para mandar a decisão ir mesmo para os gramados do Felipe Raulino e do Albertão. Sem querer ensinar padre a celebrar missa, até mesmo por não ter conhecimento jurídico para tal, vai uma dica, apenas uma dica, para o advogado que for ao TJD defender os interesses de Altos no novo caso que julgará a suposta atuação irregular do zagueiro Vitor Bafana.
No caso Paulo, Altos arguiu que os pontos foram zerados ao final do 1° turno, e isso não constava no regulamento. Como os cartões amarelos também não falavam em zeragem, o mesmo critério deveria ser utilizado. O TJD acolheu. Agora vejam o seguinte.
Encerrada a fase semifinal de turno, River e Altos foram para a final com 0 ponto, certo? Ou Altos e River foram para a decisão com todos os pontos das duas fases anteriores acumulados? Evidente que não. E se a pontuação começa do zero na decisão do título do turno, por qual motivo os cartões também não são zerados? O regulamento não fala em zeragem dos pontos para a final e eles zeram. Não falam em zerar os cartões, mas eles deveriam zerar também. E se a Comissão Disciplinar do TJD usar do mesmo entendimento que teve no caso Paulo, Altos pode ser absolvido novamente e confirmar o título que, de modo brilhante e insofismável, conquistou diante de sua torcida, na última quinta-feira. Fica a sugestão (?).
Todavia, quem sabe se, lá atrás, Altos tivesse perdido aqueles 4 pontos, não teria tido, a partir dali, rigoroso controle sobre os cartões de seus atletas, culminando com a não escalação de Vitor Bafana na última quinta-feira? Talvez a conquista do seu primeiro título na 1ª Divisão de Profissionais - a Taça Cidade de Teresina - não teria qualquer risco de ser arrancada da sua história pelo frio parecer da Justiça Desportiva. Uma pena que aquela festa da torcida, dos jogadores, da comissão técnica e da cidade como um todo tenha prazo de validade.
Sem esquecer que o Parnahyba ajuizou ação pelos mesmos problemas, mas tendo como referência o volante Rogério, do River. O que também pode mudar tudo. De uma forma ou de outra, lamentamos que o Campeonato Piauiense, no ano do seu centenário, tenha o foco do seu desfecho bem distante do Felipão, do Albertão, de Gênesis, de Vanderlei Francisco, dos dois Esquerdinhas (o do River e o de Altos), de Nivaldo Lancuna, de Capitão, de Warton Lacerda e de Elizeu Aguiar. Das duas apaixonadas torcidas. Nosso tão combalido futebol não merecia isso.
Severino Filho (Buim)