terça-feira, 1 de março de 2016

Leonardo, um amigo que parte deixando grande saudade

O futebol brasileiro está de luto. Morreu Leonardo Pereira da Silva, o Leonardo de Picos, como era comum ser chamado para diferenciar de tantos outros Leonardos. Há um mês que todos nós acompanhávamos sua via crucis em um dos leitos da UTI do Hospital da Restauração, em Recife, cidade que o acolhera como um dos maiores ídolos da sua história.
 
Passavam alguns minutos das 15 horas quando recebi a notícia pelo telefone. Do outro lado da linha, um de meus filhos, Alexandre, perguntou: "Pai, o senhor já sabe do Leonardo?". Nem precisou dar mais detalhes. Apenas confirmou a notícia que eu não gostaria de ouvir. Logo me veio a lembrança de mais um amigo que se vai. Não a lembrança do craque que encantou multidões, mas a do Leonardo que, em algum lugar do passado, chegou em minha casa levado pelo amigo comum Batistinha.
 
Nunca havíamos trocado qualquer palavra antes. E ele já era famoso, um dos maiores ídolos do Sport Recife, com passagem pela seleção brasileira, Palmeiras, Vasco da Gama e Corinthians. Foi entrando e dizendo: "Trouxe essa lembrança para você (um litro de whisky)". A resenha foi até altas horas. Eu, minha esposa, meus filhos, Leonardo e o casal amigo Batistinha e Morena.
 
Alguns anos depois, já como atleta do Cruzeiro, ele veio de férias e mandou um recado para que eu lhe procurasse no Real Palace, onde estava hospedado. Lá chegando, me disse que sabia que eu colecionava camisas de muitos ídolos do futebol, e arrematou: "A minha não pode faltar na sua coleção". E entregou-me a número 11 do Cruzeiro, que ele usara na vitória de 4 a 1 sobre o Internacional, quando marcou dois gols, no último jogo da temporada de 2001. Os grandes clubes não lhe subiam à cabeça. No mesmo dia, à noite, na antiga sede do River, fez questão de posar para foto com meus filhos Alexandre Soares e Maurício Pokémon.
 
Como estava sempre jogando fora do Piauí, poucas vezes nos encontramos. Em certa ocasião, apresentava o programa Alô Torcida Piauiense e Leonardo era notícia. Não lembro agora qual o assunto, mas liguei antes do programa e perguntei se ele poderia nos atender com uma entrevista. Leonardo estava com alguns amigos, mas, extremamente solícito, retornou a ligação no horário do programa e respondeu todas as nossas perguntas. Mas o que mais me marcou estava por vir.
 
Corria o ano de 2007 e Picos disputaria a 2ª Divisão do Campeonato Piauiense. Leonardo aceitou jogar pela SEP para ajuda-la a retornar à nossa divisão principal. Na semifinal, a SEP teve o Flamengo pela frente. Na noite de 19 de setembro de 2007 ocorreu nosso último encontro. Estava no gramado, trabalhando para o Acessepiauí, e aguardava revê-lo para lhe dar um abraço.
 
Quando a SEP pisou o gramado do Estádio Albertão, comandada por Leonardo, logo foi posar para a tradicional foto do time formado. Com o time posado à minha frente, fiz as fotos que precisava para o portal, assim como os outros colegas de imprensa. Quando todos se preparavam para entrevistar o grande nome da noite, Leonardo, que estava agachado, levantou-se rápido, correu em minha direção e abraçou-me. Nem esperava por aquela tão espontânea manifestação de amizade.
 
Hoje nosso amigo se foi. Que Deus o receba como ele bem merece. A camisa fica como uma grande lembrança. A foto com meus filhos será uma recordação guardada com muito carinho. E aquele abraço, em pleno gramado do Albertão, ficará eternamente lembrado como um dos momentos mais inesquecíveis na minha trajetória de jornalista esportivo.
 
Severino Filho (Buim) 
 
 

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